Bêbados
Se não são os bêbados os mais lúcidos, quem são? L.C.M.
Sou só um homem. E o que isso quer dizer, afinal de contas? Para responder qualquer baboseira esotérica, chamem um xamã. Não, um xamã não; alguém mais inútil, quem sabe um pastor, daquele tipo que faz um bem danado. Ali, do outro lado da rua, um homem no chão, um homem de terno. Quem sabe ser homem é só saber usar pano para se cobrir e para se dizer de ali ou de lá. Homens, para que os quero? Quem disse que quero? Talvez seja isso, no fim das contas: se identificar com aquilo que mais odeia e que mais ama. L.C.M (original do dia 02/06/2018)
Vermelho
Após desbravar discursos turvos dos bravos laureados ocupantes das cadeiras enfeitadas de insegurança, deparei-me com o louco, o animal, e, como todo privado, gostei. Há tempos não via por estas bandas um pouco de sangue e, imaginem só, de repente, eu, um macaco perdido no cosmos, num verdadeiro deserto de vozes fantasmagóricas, encontrar um fragmento de vida vermelho. Doutos dos doutos, belos farsantes, onde estão os doutos das matérias mundanas? Daquele mundo que na infância vivi. Será que os doutos dos doutos, supérfluos como são, se aproveitaram da doutrina dos inocentes?
Se não se pode ver os sábios, apenas feiticeiros, só se trata de ambiente. Sei que, nas lacunas, como o sangue que por trás das palavras está encoberto, eles também estão, nutrindo-se daquilo que ainda é real.
E que a luta continue.
L.C.M (original do dia 02/06/2018)
Texto rápido sobre milagre (publicado inicialmente em 08/01/2018)
Milagres existem, mas não são as operações de um ente de natureza diferente da nossa. São muito menos uma coisa sem causa, e até podemos dizer que são indeterminados, mas apenas no sentido de que sabemos do nosso estado atual de ignorância.
Contudo, ainda não se pode dizer que o milagre é simplesmente o imprevisto, pois há imprevistos desastrosos. É necessário que seja aprazível para aquele que não prevê.
Podemos dizer que a vida de uma criança está repleta de milagres, pois operam sobre um mundo que ainda não conhecem e, por algum motivo, talvez filogenético, têm extremo prazer em observar novos eventos e funções.
Para um adulto, o evento e suas variáveis independentes podem ser de conhecimento antigo e já não se caracterizam como um milagre. A mágica só é mágica quando não se conhecem as causas do evento; além disso, ela pode perder a graça ou até ser aversiva se continuarmos a entrar em contato com ela constantemente.
Um cientista procura milagres, os descreve e analisa, para que não se tornem aversivos e possam dar acesso a novos milagres.
Por definição, o milagre não é previsível para uma pessoa ou comunidade específica, o que não significa que o evento seja indeterminado no sentido de que não há variáveis independentes das quais ele seja função. Também deve ser aprazível para os que não podem prever; o infortúnio do inimigo é um ótimo exemplo de milagre.
- Hélio Antonio Manfredo.
Escrita ex-perímetral.
Fragmento de dia.
Dois reais em metal são extraídos do fundo de um dos compartimentos da carteira, em seguida a fecho gozando do estralo do botão. A regularidade na mudança dos valores torna desnecessário averiguar a tabela de preços. Sobra-me tempo para conferir se sou eu ou o caixa quem recebe atenção. O caixa ganha e torna visível o motivo da segunda contratação, que me atende chamando por "moço". Peço o café e fito seus olhos cansados da vida, já mortos não me dizem nada, se não são seus gestos rumo a outra máquina, talvez eu repetisse o pedido. - L.C.M.
O texto segue a linha.
É preciso ter valores para para ver o justo e o injusto,
compartilhar a luta fazendo uso da carne dos homens.
Não ser capaz de transcender,
não ser imparcial.
É preciso não saber o que se está fazendo,
matar o amado e se arrepender.
O que é o valor se não o choro ou o grito?
Todo resto é irrelevante, não há adiante quando tudo é caminho,
por isso estar fadado aos valores é o que faz o ser humano. - L.C.M.
Um sonho
Como pode ser real?
Algo gélido me sobe por dentro,
empurra meu coração pela boca.
Como pode ser tão real?
Minhas firmes pernas, agora trêmulas como as de quem acaba de alcançar seu sonho.
Aliás, se não um sonho, o que mais?
Como ela pode ser tão real?
- L.C.M.
Vaidade
A empatia com a ignorância admitida do sábio só mostra o quão sofisticada é nossa vaidade. - L.C.M
Essência
Gigante maquinaria
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Prestes a se restaurar, o hábito de ingerir café se revela ao público pelo meu andar certo rumo à balconista. Meus passos são alguns dos mui...
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Que tormenta! Ver que os sonhos foram substituídos por imagens das desilusões. Escutar o eco da voz do ancião, pedindo ponderação ao menino ...