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Fragmento de dia.

Prestes a se restaurar, o hábito de ingerir café se revela ao público pelo meu andar certo rumo à balconista. Meus passos são alguns dos muitos que precisei executar durante a manhã, a cadência respeita a moral do local, numa velocidade média as de muitas outras instituições.
Dois reais em metal são extraídos do fundo de um dos compartimentos da carteira, em seguida a fecho gozando do estralo do botão. A regularidade na mudança dos valores torna desnecessário averiguar a tabela de preços. Sobra-me tempo para conferir se sou eu ou o caixa quem recebe atenção. O caixa ganha e torna visível o motivo da segunda contratação, que me atende chamando por "moço". Peço o café e fito seus olhos cansados da vida, já mortos não me dizem nada, se não são seus gestos rumo a outra máquina, talvez eu repetisse o pedido. - L.C.M.

O texto segue a linha.

Só tu, medíocre, faz parte da trama!
É preciso ter valores para para ver o justo e o injusto,
compartilhar a luta fazendo uso da carne dos homens.
Não ser capaz de transcender,
não ser imparcial.
É preciso não saber o que se está fazendo,
matar o amado e se arrepender.
O que é o valor se não o choro ou o grito?
Todo resto é irrelevante, não há adiante quando tudo é caminho,
por isso estar fadado aos valores é o que faz o ser humano. - L.C.M.

Vaidade

Aplaudiram o sábio que admitia não saber.
A empatia com a ignorância admitida do sábio só mostra o quão sofisticada é nossa vaidade. - L.C.M
Reconheço o previsível quando dou conta do meu conhecimento, reconheço o imprevisível quando dou conta da minha ignorância, reconheço o aleatório quando aceito minha ignorância, defendo o aleatório quando ignoro minha ignorância. LCM.
Parto do que vejo e encontro a constância. O concreto não me ilude, permanece previsível, o contrário é coisa frágil e, como toda ilusão, precisa mostrar a concretude de minha ignorância. L.C.M. (publicado originalmente em 16/09/2017)

Essência

Essência, dela nunca estive tão próximo como quando tão intensamente senti sua ausência. L.C.M
Poetas são solitários, suas palavras solidárias. Como paradoxos não existem, há sempre quem contextualize: um poeta quis um dia ser como os outros, começou descrevendo quem os outros são e, desde então, é apenas poeta, mas os outros não - L.C.M.

Gigante maquinaria

"Pouco do quero e posso, muito do devo e ponto" é logo na testa do povo, principalmente nos rotos embotados que esperam o ônibus na esquina. A ofegância constante, o peito espremido, o ar rarefeito, a sufocante pressão dos cargos que com os corações conflitam. O pó do atrito daquilo que engrena essa gigante maquinaria é vermelho sangue e espirra como artéria ferida. A máquina funciona independente das particularidades do homem, o sangue que espirra é daquilo que lhe fornece energia, a pilha de ossos e carne que o ônibus leva para queima dia a dia. - L.C.M.