Como você.

Nasci aceito
Já você, vocifera por ser.
Pratico o implícito.
Impelido a desejar como você.
Não nego e desfruto.
Vai ver eis aí meu absurdo.
Caçar a fêmea,
achar a fera.
Achar suas presas,
querer você.
Instinto ou admiração?
Não sei se desejo a tua carne no cio
ou se admiro tua caçada.
Só sei que também sou sua presa.
Imagino, como você.

PT

PT, a puta, julgada suja por quem desfruta de sua caridade. Geni, minha Geni, de lá do zepelim gigante descerá o general, que poucos sabem que sofre da mesma peste que impregnou seus órgãos íntimos, após deitar-se com meia duzia de urubus e morcegos. Muitos gritarão para que joguem as pedras e dessa vez será o messias que jogará a primeira, será transmitido pelo seu próprio canal de tv. Recordemos o que previ!

Fantasmas que habitam meu coração

Sob a luz do luar, vagando em minhas fantasias, estão as damas da noite, exalando o perfume das flores carnívoras. Cabelos emaranhados contendo a riqueza das formas, silhuetas banhadas pelo meu olhar infantil, mulheres e seus jeitos, penetram-me, dão-me vontade de tê-las nos braços. Mas como sustentar o intangível? Sou experiente, são fantasmas, são elas o pedaço de mim que mais ama o pedaço daquelas, que ao contrário destas são reais.

Prof. Mentalismo.

Na tua prova não tem meu nome. Não escrevi. É que só escrevo certo por linhas certas, não me alinho a métricas de títulos indignos das fontes que li. Reli relíquias, desfiz charadas, minhas fontes são grandes e claras, são os raros crivos encontrados em sebos, corrigem as múltiplas escolhas do teu mesmo erro.

Rosa

A musa nua,  mulher despida, ferida a gosto. Belo gosto. Há um tanto de história por trás da carne que mostra que é vida encarnada, o fruto da flor e também a seiva que banha este velho.
Moça que já foi menina, conta-me um tanto do teu bairro, das aventuras, do céu que te alegra, daquilo que melhor te cerca.
Por dentro desses galhos velhos espero tua seiva, para que cresça a mesma rosa do teu bairro, das tuas aventuras e do teu jardim.

Antropofagia

Enfiaram-me um mundo pela goela, engoli tudo até dar conta de mim, deparei-me que nunca havia chegado e que aqui estava, então cuspi. Cuspi palavras, restando a língua, assim como no início era a variabilidade, surgiu o verbo como o vômito dessa antropofagia.  Tendo dito, edito-me e assim tenho dito o que sou, o homem da frase, a frase do homem, o discurso que diz o curso do meu dizer, diz quem sou e como soo.

Breve apologia à natureza.

Natureza que assopra meus pulmões, que sem pedir nutri minhas veias, que faz células vagarem organismos, travando guerras silenciosas, fazendo de nós sujeitos, platéia e olimpo. Estamos mesmo todos sujeitos a ela, que tanto dá ao amigo, quanto ao inimigo. Amiga da moléstia e do sorriso, que arranca toda vida desse pedaço de chão, que traça o começo, o meio e que arranca toda vida desse pedaço de chão. 
Gaia, se sinto imensa felicidade pelo simples voar de um passarinho e extremo pesar pelas tragédias que vivo, o quão absurdo é tudo isso? Sinto que és mãe de tudo, do pássaro, da tragédia, da minha felicidade que como todo resto apenas acontece e só isso. Sem que nada em teu seio tenha o número ou o grau que em muitas de minhas preces eu já tenha pedido enquanto relutava em ver que és o próprio sentido.


...

Lamento por escrever bem apenas quando... Lamento.
Peço desculpas por admitir apenas quando... Peço desculpas.
Omito por não querer que saibam de tudo quando... Omito.

Sonhos caídos

Que tormenta! Ver que os sonhos foram substituídos por imagens das desilusões. Escutar o eco da voz  do ancião, pedindo ponderação ao menino sonhador, aparando suas asas com medo da queda do anjo em terra. O garoto que pensava ser a estrela do amanhã nutriu-se da arvore do conhecimento, coletou e saboreou os livros de sua cultura, mas agora apenas caminha em livrarias que vendem instrumentos da burocracia.

Bêbados II

Nas noites, nos becos, vielas e travessas os bêbados bambeiam, discursam para as paredes verdades eternas.

Luto por ter perdido a pureza.

Luto, por ter perdido a pureza!

Bêbados

O que foi dito bêbado foi pensado são.
Se não são os bêbados os mais lúcidos, quem são? L.C.M.

Vermelho

Após desbravar discursos turvos dos bravos laureados ocupantes das cadeiras enfeitadas de insegurança, deparei-me com o louco, o animal e como todo privado gostei. Há tempos não via por estas bandas um pouco de sangue e imaginem só, de repente, eu, um macaco, perdido no cosmos, num verdadeiro deserto de vozes fantasmagóricas, encontrar um fragmento de vida vermelho. Doutos de doutos, belos farsantes, onde estão os doutos das matérias mundanas? Daquele mundo que na infância vivi. Será que os doutos de doutos, supérfluos como são, se aproveitaram da doutrina dos inocentes?
Se não se pode ver os sábios, apenas feiticeiros, só se trata de ambiente, sei que nas lacunas como o sangue que por trás das palavras está encoberto, eles também estão, nutrindo-se daquilo que ainda é real.
E que luta continue. 

O contorno da silhueta de um urso em luz neon de um verde claro cativara a atenção de Timbete, que caminhava compassadamente com o olhar fixo na imagem que se destacava efusiva em meio ao breu da noite. Fazia parte da fachada de um bar, estilo cawboy norte americano. Parou diante da fachada a mirar o "urso", nada pensava,apenas observava. A noite era fria mas havia algum movimento de pessoas que passavam, entravam e saiam do "bar do urso". Timbete resolveu entrar; na verdade "Timbete" era um apelido que ganhou quando jogava capoeira com os amigos da favela do Fundão, chamava-se Augusto e vestia-se de jaqueta e calça jeans, mais parecido com os frequentadores do bar. Ao entrar dirigiu-se diretamente ao balcão e sentou-se num banco alto, uma banda de cawboys tocava samba. Continuava alheio ao barulho e movimento interno. O atendente do balcão que parecia conhece-lo perguntou o que iria querer, não respondeu, sequer parecia ter ouvido. O atendente observou-o por alguns segundos e o deixou em paz. Apareceu Toninho, um grande, gordo e velho amigo: e aí Timbete! Tudo bem?! Olhou para Toninho serenamente e nada respondeu. Alguém que estava com Toninho perguntou o que houve, Toninho respondeu: Deixa ele...e saiu. De repente levantou-se caminhando para fora, parou novamente diante do "urso de neon". Imagens de luzes coloridas, lembranças de rostos amigos, alegrias e tristezas bailavam em sua mente. Voltou-se em sentido contrário ao bar e pôs-se a caminhar, agora rumo a um pequeno prédio no final da rua, de onde, da janela do seu quarto atentara para o "urso". Ia chegando e algumas pessoas o aguardavam ansiosas...era sua família; mãe, pai, suas irmãs e uma amiga da família que havia posado lá. Clara, a amiga,antecipou-se rumo a Timbete com intenção de perguntar algo, mas foi segurada por uma das irmãs que disse: Deixa ele! Timbete subiu a escadaria, entrou em casa e foi para o seu quarto, mirou mais uma vez o "urso de neon". Sua família que o acompanhara, parou diante do quarto entreolhando-se um tanto aliviados, Clara, a amiga, olha para Tânia, uma das irmãs de Timbete e gesticula com as mãos como quem pergunta: o que está acontecendo?!!! Tânia responde: Ele é sonâmbulo!!!
- Hélio Antonio Manfredo.

Escrita ex-perímetral.

Firo o papel, com meu lápis tiro de letra, bang, o mineral encontra o papel vegetal. Escrita fluida é como água, é só para matar a seda, por isso a trago pra junto do meu café, combustível fácil de fazer ideia. Por vezes me perco, mas é assim que é escrever por escrever, per come por vezes tentadas, tentadas erradas e certeiras. Como as julgo? Por instintos que foram meus erros aos poucos que entenderam a melodia, fluindo como café em mim.

Fragmento de dia.

Prestes a se restaurar, o hábito de ingerir café se revela ao público pelo meu andar certo rumo à balconista. Meus passos são alguns dos muitos que precisei executar durante a manhã, a cadência respeita a moral do local, numa velocidade média as de muitas outras instituições.
Dois reais em metal são extraídos do fundo de um dos compartimentos da carteira, em seguida a fecho gozando do estralo do botão. A regularidade na mudança dos valores torna desnecessário averiguar a tabela de preços. Sobra-me tempo para conferir se sou eu ou o caixa quem recebe atenção. O caixa ganha e torna visível o motivo da segunda contratação, que me atende chamando por "moço". Peço o café e fito seus olhos cansados da vida, já mortos não me dizem nada, se não são seus gestos rumo a outra máquina, talvez eu repetisse o pedido. - L.C.M.

O texto segue a linha.

Só tu, medíocre, faz parte da trama!
É preciso ter valores para para ver o justo e o injusto,
compartilhar a luta fazendo uso da carne dos homens.
Não ser capaz de transcender,
não ser imparcial.
É preciso não saber o que se está fazendo,
matar o amado e se arrepender.
O que é o valor se não o choro ou o grito?
Todo resto é irrelevante, não há adiante quando tudo é caminho,
por isso estar fadado aos valores é o que faz o ser humano. - L.C.M.

O primeiro hiato desde o nascimento.

Somos pó que o vento leva, organismos guiados por instinto, sujeitos à língua dos homens, fruto do passado e como tais impedidos de sermos agora algo diferente do que somos, passivos à nossa origem, continuando passivos até nos perguntamos sobre o sentido da vida. Sim! Somente até nos perguntarmos sobre o sentido da vida! No entanto, acrescento que perguntar sobre o sentido da vida não é uma pergunta, é uma condição, condição onde não há perguntas só cursos de ação, ilusórios em sentido real e reais como ilusão. É o estado que nos coloca de frente para nossa história diante da história das outras coisas. Nele é preciso que as perguntas, antes gatilhos para respostas certeiras, sejam artefatos de nossa vida em terra, quando ainda fazia sentido respondê-las. - L.C.M.