Sei lá

Entre a gélida brisa noturna e o calor do meu coração, anseio por tua ternura, teu toque, teu cheiro, tua mão.
Só sei que para cada canto da rua dei lembrança tua na esperança de em teu seio morar.
E será que eu nunca havia notado os pequenos sons do teu fazer? Macios como a cama que me deito em sonhos. Detalhes, resquícios, relíquias que inundam meu ser.

Toma

Cai na rua seu crânio quebrado,
nem credo, nem crack,
sintoma não mata.
Sim, toma de graça a falta,
a causa de tanta desgraça.

Ponto

Pro trampo
um tanto tonto
de pouco sono
Espero pronto no ponto
Se o passe
não passa,
um impasse.
Peço ajuda,
prece ajuda,
velho ajuda
e eu passo.
E é tanto trabalho a troco de trapo
e, se já não bastasse,
vai que bato,
vai que caio,
mãos ao alto,
um assassinato,
o meio fio.
Afinal, o fim a troco de nada.

Como você.

Nasci aceito
Já você, vocifera por ser.
Pratico o implícito.
Impelido a desejar como você.
Não nego e desfruto.
Vai ver eis aí meu absurdo.
Caçar a fêmea,
achar a fera.
Achar suas presas,
querer você.
Instinto ou admiração?
Não sei se desejo a tua carne no cio
ou se admiro tua caçada.
Só sei que também sou sua presa.
Imagino, como você.

PT

PT, a puta, julgada suja por quem desfruta de sua caridade. Geni, minha Geni, de lá do zepelim gigante descerá o general, que poucos sabem que sofre da mesma peste que impregnou seus órgãos íntimos, após deitar-se com meia duzia de urubus e morcegos. Muitos gritarão para que joguem as pedras e dessa vez será o messias que jogará a primeira, será transmitido pelo seu próprio canal de tv. Recordemos o que previ!

Fantasmas que habitam meu coração

Sob a luz do luar, vagando em minhas fantasias, estão as damas da noite, exalando o perfume das flores carnívoras. Cabelos emaranhados contendo a riqueza das formas, silhuetas banhadas pelo meu olhar infantil, mulheres e seus jeitos, penetram-me, dão-me vontade de tê-las nos braços. Mas como sustentar o intangível? Sou experiente, são fantasmas, são elas o pedaço de mim que mais ama o pedaço daquelas, que ao contrário destas são reais.

Prof. Mentalismo.

Na tua prova não tem meu nome. Não escrevi. É que só escrevo certo por linhas certas, não me alinho a métricas de títulos indignos das fontes que li. Reli relíquias, desfiz charadas, minhas fontes são grandes e claras, são os raros crivos encontrados em sebos, corrigem as múltiplas escolhas do teu mesmo erro.

Rosa

A musa nua, mulher despida, ferida a gosto. Belo gosto. Há um tanto de história por trás da carne, que mostra que é vida encarnada, o fruto da flor e também a seiva que banha este velho.

Moça que já foi menina, conta-me um tanto do teu bairro, das aventuras, do céu que te alegra, daquilo que melhor te cerca.

Por dentro desses galhos velhos, espero tua seiva, para que cresça a mesma rosa do teu bairro, das tuas aventuras e do teu jardim.

L.C.M (original do dia 13/10/2018)

Antropofagia

Enfiaram-me um mundo pela goela; engoli tudo até dar conta de mim. Deparei-me com o fato de que nunca havia chegado e que aqui estava; então cuspi. Cuspi palavras, restando a língua, assim como no início era a variabilidade, surgiu o verbo como o vômito dessa antropofagia. Tendo dito isso, edito-me e assim tenho dito o que sou: o homem da frase, a frase do homem, o discurso que diz o curso do meu dizer, diz quem sou e como soo. L.C.M 1(original do dia 03/10/2018)

Breve apologia à natureza.

Natureza que assopra meus pulmões, que sem pedir nutre minhas veias, que faz células vagarem por organismos, travando guerras silenciosas, fazendo de nós sujeitos, plateia e olimpo. Estamos mesmo todos sujeitos a ela, que tanto dá ao amigo quanto ao inimigo. Amiga da moléstia e do sorriso, que arranca toda vida desse pedaço de chão, que traça o começo, o meio e o fim.

Gaia, se sinto imensa felicidade pelo simples voar de um passarinho e extremo pesar pelas tragédias que vivo, o quão absurdo é tudo isso? Sinto que és mãe de tudo, do pássaro, da tragédia, da minha felicidade, que como todo o resto apenas acontece e só isso. Sem que nada em teu seio tenha o número ou o grau que em muitas de minhas preces eu já tenha pedido, enquanto relutava em ver que és o próprio sentido. L.C.M (original do dia 15/08/2018)



...

Lamento por escrever bem apenas quando... Lamento.
Peço desculpas por admitir apenas quando... Peço desculpas.
Omito por não querer que saibam de tudo quando... Omito.

Sonhos caídos

Que tormenta! Ver que os sonhos foram substituídos por imagens das desilusões. Escutar o eco da voz do ancião, pedindo ponderação ao menino sonhador, aparando suas asas com medo da queda do anjo em terra. O garoto que pensava ser a estrela do amanhã nutriu-se da árvore do conhecimento, coletou e saboreou os livros de sua cultura, mas agora apenas caminha em livrarias que vendem instrumentos da burocracia. L.C.M (original do dia 28/07/2018)

Bêbados II

Nas noites, nos becos, vielas e travessas os bêbados bambeiam, discursam para as paredes verdades eternas.

Luto por ter perdido a pureza.

Luto, por ter perdido a pureza!

Bêbados

O que foi dito bêbado foi pensado são.
Se não são os bêbados os mais lúcidos, quem são? L.C.M.

Sou só um homem. E o que isso quer dizer, afinal de contas? Para responder qualquer baboseira esotérica, chamem um xamã. Não, um xamã não; alguém mais inútil, quem sabe um pastor, daquele tipo que faz um bem danado. Ali, do outro lado da rua, um homem no chão, um homem de terno. Quem sabe ser homem é só saber usar pano para se cobrir e para se dizer de ali ou de lá. Homens, para que os quero? Quem disse que quero? Talvez seja isso, no fim das contas: se identificar com aquilo que mais odeia e que mais ama. L.C.M (original do dia 02/06/2018)

Vermelho

Após desbravar discursos turvos dos bravos laureados ocupantes das cadeiras enfeitadas de insegurança, deparei-me com o louco, o animal, e, como todo privado, gostei. Há tempos não via por estas bandas um pouco de sangue e, imaginem só, de repente, eu, um macaco perdido no cosmos, num verdadeiro deserto de vozes fantasmagóricas, encontrar um fragmento de vida vermelho. Doutos dos doutos, belos farsantes, onde estão os doutos das matérias mundanas? Daquele mundo que na infância vivi. Será que os doutos dos doutos, supérfluos como são, se aproveitaram da doutrina dos inocentes?

Se não se pode ver os sábios, apenas feiticeiros, só se trata de ambiente. Sei que, nas lacunas, como o sangue que por trás das palavras está encoberto, eles também estão, nutrindo-se daquilo que ainda é real.

E que a luta continue.

L.C.M (original do dia 02/06/2018)

Texto rápido sobre milagre (publicado inicialmente em 08/01/2018)

Milagres existem, mas não são as operações de um ente de natureza diferente da nossa. São muito menos uma coisa sem causa, e até podemos dizer que são indeterminados, mas apenas no sentido de que sabemos do nosso estado atual de ignorância.

Contudo, ainda não se pode dizer que o milagre é simplesmente o imprevisto, pois há imprevistos desastrosos. É necessário que seja aprazível para aquele que não prevê.

Podemos dizer que a vida de uma criança está repleta de milagres, pois operam sobre um mundo que ainda não conhecem e, por algum motivo, talvez filogenético, têm extremo prazer em observar novos eventos e funções.

Para um adulto, o evento e suas variáveis independentes podem ser de conhecimento antigo e já não se caracterizam como um milagre. A mágica só é mágica quando não se conhecem as causas do evento; além disso, ela pode perder a graça ou até ser aversiva se continuarmos a entrar em contato com ela constantemente.

Um cientista procura milagres, os descreve e analisa, para que não se tornem aversivos e possam dar acesso a novos milagres.

Por definição, o milagre não é previsível para uma pessoa ou comunidade específica, o que não significa que o evento seja indeterminado no sentido de que não há variáveis independentes das quais ele seja função. Também deve ser aprazível para os que não podem prever; o infortúnio do inimigo é um ótimo exemplo de milagre.